Tabela: Exemplos Clássicos de Casos Gettier
Os exemplos originais de Edmund Gettier (1963) reformulados em linguagem clara e comparativa
Exemplo | Cenário / História | Crença Formada (p) | Justificação | Verdade de p? | É Conhecimento? | Por que não é conhecimento? |
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Exemplo 1 (Gettier Original) | Smith e Jones concorrem a um emprego. O chefe diz a Smith: "Jones será contratado". Smith vê Jones com 10 moedas no bolso. Smith infere: "A pessoa que será contratada tem 10 moedas no bolso". | "A pessoa que será contratada tem 10 moedas no bolso." | Baseada em: (1) testemunho confiável do chefe, (2) observação direta das moedas de Jones. | ✅ Sim — mas por coincidência: Smith é contratado, e ele também tem 10 moedas no bolso (sem saber). | ❌ Não | A crença é verdadeira, mas por sorte — a justificação se baseava em premissas falsas (Jones não foi contratado). |
Exemplo 2 (Gettier Original) | Smith tem fortes evidências de que Jones tem um Ford (viu Jones dirigindo, Jones disse que tem, etc.). Smith então forma a crença disjuntiva: "Jones tem um Ford ou Brown está em Barcelona". (Smith não sabe nada sobre Brown.) | "Jones tem um Ford ou Brown está em Barcelona." | Justificada porque Smith tem boas razões para crer que Jones tem um Ford (premissa da disjunção). | ✅ Sim — mas Jones não tem Ford (estava dirigindo carro emprestado). Brown, por acaso, está em Barcelona. | ❌ Não | A crença é verdadeira apenas por causa da segunda parte da disjunção, que Smith não tinha justificação para acreditar. Verdade por sorte. |
Exemplo 3 (Relógio Parado) | João olha para um relógio na parede que sempre funcionou bem. O relógio marca 14h. João acredita: "São 14h". Na verdade, o relógio parou exatamente às 14h de ontem. Por coincidência, agora realmente são 14h. | "São 14h." | Justificada pela confiança no relógio (que sempre foi confiável) e pela observação direta. | ✅ Sim — o horário está correto. | ❌ Não | O relógio está parado — João teve sorte de olhar exatamente 24h depois. Sua justificação é falha, embora a crença seja verdadeira. |
Padrão Comum nos Casos Gettier
- S forma uma crença p.
- S tem justificação aparentemente sólida para p.
- p é verdadeira — mas por razões diferentes das que S acredita.
- A verdade de p é alcançada por sorte, coincidência ou acidente.
- Intuitivamente, não dizemos que S "sabe" p — apenas "acertou por acaso".
Conclusão:
A definição clássica de conhecimento (crença verdadeira justificada) é insuficiente — é preciso excluir a "sorte epistêmica".
Por que esses exemplos importam?
Justificação incompleta
Mostram que justificação não garante conexão confiável com a verdade.
Condição adicional
Revelam que conhecimento exige mais do que as três condições clássicas.
Ferramenta pedagógica
Tornaram-se essenciais no ensino e pesquisa em epistemologia.